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Psicossomática – a relação entre corpo e mente

  • Foto do escritor: Luiz Otavio Bastos
    Luiz Otavio Bastos
  • 24 de jul.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 2 de out.


Você já sentiu dores no corpo, cansaço extremo ou desconfortos gastrointestinais mesmo depois de procurar vários médicos diferentes, fazer todos os exames e “não dar nada”? Na área da saúde, esse é um fenômeno mais comum do que parece. Alguns estudos estimam que até um terço de toda a prática médica corresponde a sintomas sem explicação médica ou – também chamadas - síndromes funcionais. São nomenclaturas utilizadas para dizer que esses sintomas não podem ser explicados por nenhuma alteração orgânica. Condições como fibromialgia, síndrome da fadiga crônica ou síndrome do intestino irritável, afetam milhares de pessoas, e não é porque os exames estão normais que o sofrimento é “coisa da sua cabeça”. Como já ouvi muitos pacientes dizerem: mas, doutor! Como isso pode ser coisa da minha cabeça se o que eu sentindo é na barriga?


A abordagem da Medicina de Família e Comunidade entende que cada pessoa é muito mais do que um conjunto de órgãos desconectados entre si. Emoções acumuladas, estresse crônico, lutos mal resolvidos ou conflitos silenciosos podem se transformar em sintomas físicos persistentes, por vezes, difíceis de resolver apenas com a abordagem mais convencional da medicina – isto é, aquele em que identificamos uma alteração em uma parte e vamos realizar um tratamento para curar essa lesão.


A psicossomática é o campo de encontro entre a medicina e a psicologia que estuda justamente como corpo e mente se entrelaçam nas experiências de adoecimento.


Ao fazer referência a insônia e a influência das paixões na tuberculose, epilepsia e cancro, J. C. Heinroth, psiquiatra alemão, utiliza pela primeira vez, em 1818, o termo psicossomática. A medicina psicossomática, a partir do século passado, como reação à tradição dualista cartesiana, surge com a proposta holística na maneira de olhar a doença. Somente no século posterior, o termo psicossomática é retomado, influenciado pelo desenvolvimento da psicanálise e do modelo freudiano, iniciando, desta forma, sua estruturação.

A medicina, conhecedora “das descobertas e da teorização da psicanálise, das investigações no campo da reflexiologia por Pavlov (1976), da neurofisiologia por Cannon (1911) e da conceptualização da noção de stress por Selye (1956)” (Cardoso, 1995, op. cit.), utiliza destas valiosas contribuições para fazer uma nova leitura dos fenômenos (Cerchiari, 2000).


Mas será que existem doenças em que é possível realmente fazer essa separação entre o corpo e a mente?


No consultório, é comum encontrarmos diariamente pessoas exaustas de correr entre especialistas, colecionar diagnósticos parciais e sair com mais dúvidas do que respostas. O trabalho do médico de família é escutar com atenção, entender a história da pessoa e elaborar conjuntamente um plano que inclua, além das medicações, se necessário, práticas integrativas, acompanhamento psicoterapêutico e mudanças reais no estilo de vida.


Diversos fatores podem influenciar quem tende a desenvolver um sofrimento emocional que se manifesta através do corpo. Entre eles, destacam-se experiências familiares e padrões aprendidos desde cedo, como a tendência a ver o mundo de forma negativa ou reagir com maior sensibilidade à dor. Questões genéticas e traços de personalidade também entram em cena, assim como o modo como cada pessoa lida com desafios e conflitos da vida.


O termo mais aceito atualmente (DSM V–TR) entre psiquiatras para explicar esse fenômeno é sintomas somáticos e transtornos relacionados, pois engloba não apenas condições sem explicação médica mas também condições em que se é identificado alguma doença, porém com uma resposta exagerada ao quadro.


Isso porque pessoas com dificuldade de expressar emoções ou de reconhecer o próprio sofrimento psíquico podem acabar focando demais nos sintomas físicos. A presença de transtornos como ansiedade e depressão pode intensificar esse processo, assim como o estresse e o isolamento social. Em alguns casos, a evitação de atividades ou a repetição de certos comportamentos ligados à dor — como afastar-se de compromissos ou procurar constantemente por diagnósticos — acaba perpetuando o ciclo de adoecimento.


A psicossomática não é uma invenção recente. Ela nasce do desconforto de muitos médicos e pensadores do século XX com a fragmentação da medicina moderna — aquela que olha o fígado, o estômago ou a pele como peças isoladas, como se houvesse um corpo sem alma. Inspirada por autores como Viktor von Weizsäcker e influências da psicanálise e da fenomenologia, a psicossomática buscou resgatar a totalidade da experiência humana no adoecer. Curiosamente, é esse também o espírito da Medicina de Família: olhar a pessoa no seu contexto, suas relações, sua biografia. Quando corpo e mente adoecem juntos, o cuidado precisa ser inteiro.


REFERÊNCIAS:

CERCHIARI, E. A. N.. Psicossomática um estudo histórico e epistemológico. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 20, n. 4, p. 64–79, dez. 2000.

CAPITAO, Cláudio Garcia; CARVALHO, Érica Bonfá. Psicossomática: duas abordagens de um mesmo problema. Psic,  São Paulo ,  v. 7, n. 2, p. 21-29,  dez.  2006 

WORKING FIT. DSM-5 Somatic Symptom and Related Disorders. WorkingFit, [s.d.]. Disponível em: https://www.workingfit.co.uk/medical-evidence/unexplained-and-exaggerated-symptoms/dsm-5-somatic-symptom-and-related-disorders. Acesso em: 22 jul. 2025.


 
 
 

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